SaĂșde Esclerose MĂșltipla

Diagnóstico precoce evita sequelas em casos de esclerose múltipla

Dados da Federação Internacional de Esclerose MĂșltipla e da Organização Mundial da SaĂșde (OMS), publicados em 2013, indicavam que no Brasil existiam 40 mil casos da doença

Por Agência Brasil

30/08/2021 às 14:22:50 - Atualizado hĂĄ

InstituĂ­do pela Lei 11.303/2006, o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose MĂșltipla, comemorado hoje (30), quer dar maior visibilidade à doença, informar a população e alertar para a importância do diagnóstico precoce da enfermidade, que pode ser tratada e impedir sequelas.

O professor de neurologia da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Denis Bichuetti, disse à AgĂȘncia Brasil que do ponto de vista clĂ­nico, a esclerose mĂșltipla (EM) é uma doença crônica e debilitante, mas caso seja diagnosticada e tratada precocemente, ou seja, antes de as sequelas acontecerem, "o paciente pode ficar muito bem, sem sequelas por muitos anos. O que eu quero dizer é que ela é uma doença que, para eu precisar de uma bengalinha para andar, levam-se 15 anos; para eu precisar de um andador, 20 anos; e uma cadeira de rodas, 25 anos".

Ele alertou, entretanto, que como a esclerose é uma doença que começa por volta dos 20 ou 30 anos de idade e apesar de levar muito tempo para gerar incapacidade, ela ataca pessoas na época mais produtiva da vida, entre 20 e 55 anos de idade.

O coordenador de Doenças Cerebrovasculares do Hospital IcaraĂ­ e coordenador da neurologia do Hospital e ClĂ­nica de São Gonçalo, Guilherme Torezani, esclareceu que a esclerose mĂșltipla é doença autoimune, que acaba atacando algumas ĂĄreas do cérebro e comprometendo o sistema nervoso central. Dependendo da ĂĄrea do cérebro inflamada, vĂĄrios sintomas podem surgir de forma sĂșbita, em surtos. "Se o paciente deixa isso passar, não investiga, a doença vai piorando. É importante haver essa conscientização de que sintomas neurológicos novos devem ser sempre investigados por um neurologista. Por isso, a gente fala em diagnóstico precoce", disse Torezani.

Diagnóstico precoce

Denis Bichuetti afirmou que o primeiro motivo para diagnosticar logo a doença é tratar cedo e impedir a cadeia de sequelas. O primeiro ponto para diagnosticar e tratar precocemente é mudar a história da doença, "como foi mudada a história da poliomielite, do acidente vascular cerebral (AVC), como vem mudando a história do câncer" no Brasil, observou.

O segundo motivo é social e econômico. "Se eu tratar a pessoa antes de desenvolver sequela, o custo dos medicamentos, o custo desembolsado por benefĂ­cios sociais e o custo indireto com aposentadoria vão ser muito menores". Isso se eu mantiver a pessoa andando e produzindo, em vez de esperar uma sequela acontecer. Porque vou ter que tratar essa sequela, que é muito mais caro do que o remédio para mantĂȘ-la andando. E a pessoa vai parar de produzir e consumir benefĂ­cio social", explicou Bichuetti.

A terceira razão para o diagnóstico e tratamento precoces é o bem da própria pessoa, que é o elemento mais interessado, para que ela se mantenha próxima da famĂ­lia, possa desenvolver atividades de lazer, ter um trabalho onde vai produzir e ser remunerada.

Estimativa

Dados da Federação Internacional de Esclerose MĂșltipla e da Organização Mundial da SaĂșde (OMS), publicados em 2013, indicavam que no Brasil existiam 40 mil casos da doença. Denis Bichuetti disse, porém, que esse nĂșmero estĂĄ subestimado. "Por ser uma doença crônica e a pessoa viver com ela por 30 ou 40 anos, deve haver pelo menos o dobro de brasileiros com esclerose mĂșltipla. O problema é que nem todos estão plenamente diagnosticados".

De acordo com o Ministério da SaĂșde, a prevalĂȘncia média da doença no Brasil é de 8,69 para cada 100 mil habitantes. No mundo, estima-se que entre 2 e 2,5 milhões de pessoas convivam com a esclerose mĂșltipla.

Diante de sintomas sĂșbitos, que ocorram de uma hora para outra, como a perda da visão de um olho, dor, alterações da sensibilidade, perda da função de um membro, visão dupla, troca de palavras, a pessoa deve buscar imediatamente um hospital porque pode ser um AVC. Em geral, os sintomas da esclerose mĂșltipla evoluem ao longo de vĂĄrios dias ou semanas. Portanto, a recomendação é que procure auxĂ­lio médico.

O ideal é que a pessoa vĂĄ a um neurologista, mas como nem todas as cidades no Brasil dispõem desse especialista, a recomendação é procurar um clĂ­nico de confiança ou um pronto-socorro. Denis Bichuetti acrescentou que se os sintomas forem muito agudos, o paciente deve ser levado para uma emergĂȘncia, que tem os mecanismos de avaliar se não é outra coisa que precisa ser tratada. "A esclerose mĂșltipla pode esperar até amanhã. O AVC não pode", exemplificou.

Mulheres

Guilherme Torezani informou que a doença atinge duas vezes mais mulheres do que homens e é diagnosticada, em média, aos 30 anos na mulher, na idade mais produtiva, embora possa acometer desde crianças até pessoas mais idosas. Isso vale para outras doenças autoimunes, como lĂșpus, doença de Crohn, por exemplo. Segundo explicou Denis Bichuetti, a mulher tem tendĂȘncia maior a desenvolver doenças autoimunes por fatores genéticos. "Não é uma coisa exclusiva da esclerose mĂșltipla, mas do gĂȘnero feminino em geral".

O tratamento é feito com medicamentos. Atualmente, existem no mundo cerca de 14 ou 16 medicamentos aprovados por agĂȘncia reguladora, com reconhecimento cientĂ­fico para o tratamento. Desses, em torno de 12 existem no Brasil e dez estão disponĂ­veis na rede do Sistema Único de SaĂșde (SUS) e dentro do rol da AgĂȘncia Nacional de SaĂșde Suplementar.

"No Brasil, salvo a questão do atraso no diagnóstico e a demora, muitas vezes, para chegar a um neurologista, nós temos medicamentos aprovados tanto no SUS quanto na saĂșde suplementar que nada devem a outros paĂ­ses. O grande problema é as pessoas chegarem ao neurologista, o que no SUS é bem mais complicado do que no sistema privado", afirmou o professor da Unifesp.

Recomendação

Denis Bichuetti disse ainda que, neste dia 30, o recado para a população é que a doença afeta pessoas jovens, é potencialmente incapacitante, mas tem tratamento. "E com um tratamento adequado, podemos evitar sequelas. Essas pessoas podem e devem ser mantidas dentro dos seus cĂ­rculos sociais e ambientes de trabalho".

Aos empregadores, Bichuetti pediu que não vejam funcionĂĄrios portadores da doença como invĂĄlidos, mas sim como pessoas que, se receberem tratamento adequado, vão continuar produzindo muito bem e não devem ser demitidas. "Olhadas como pessoas com qualquer outra doença, que tĂȘm altos e baixos e merecem a mesma oportunidade de todo mundo".

Guilherme Torezani ressaltou também a importância de desmistificar a doença. Não é uma sentença de morte nem sentença de invalidez, assegurou. HĂĄ pacientes em tratamento estĂĄveis, hĂĄ anos sem ter surtos, vivendo uma vida praticamente normal. "É isso que a gente tem que deixar como mensagem".

O neurocirurgião Claudio Fernandes CorrĂȘa, idealizador e coordenador do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, sugeriu aos portadores da doença a prĂĄtica regular de atividades fĂ­sicas, aliada à fisioterapia motora e associação de medicação para o controle esfincteriano, caso esse seja comprometido. Para casos de alteração do controle muscular, caracterizada por rigidez e tensão dos mĂșsculos, CorrĂȘa recomendou a fisioterapia de reabilitação fĂ­sica somada à medicação, bem como procedimentos neurocirĂșrgicos em cenĂĄrios mais limitantes.

Comunicar erro
GG Noticias

© 2024 GG Noticias - Todos os direitos reservados.

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

GG Noticias