Sentença pela morte de Danielle diz que médico deixou filhas crianças sozinhas na neve e revela lista de agressões contra primeira esposa
Ex-mulher de Álvaro Ferreira disse que conviveu com ele por cinco anos e 'viveu um inferno'. Filha disse que pai é um monstro e aconselhou madrasta a deixá-lo.
A sentença que condenou o médico Álvaro Ferreira a mais de 21 anos de prisão pela morte da ex-mulher, Danielle Lustosa, revelou novos detalhes sobre a investigação. O julgamento aconteceu na última sexta-feira (1º). A decisão aponta uma lista de agressões e abusos supostamente praticados por ele contra sua primeira esposa e filhas. Em um dos episódios, teria deixado as crianças sozinhas na neve durante uma viagem à Argentina após uma briga.
Os relatos serviram para o juiz delimitar as condutas praticadas na vida pregressa do réu, que no caso de bons antecedentes, por exemplo, poderiam reduzir a pena aplicada. "Portanto, imperioso reconhecer que todas essas condutas indicam a maior periculosidade do acusado", diz o juiz em trecho da decisão.
Álvaro foi considerado culpado de todas as acusações pela morte da última esposa, a professora Danielle, em 2017. A condenação foi por homicídio qualificado por motivo torpe, mediante asfixia, com recurso que dificultou a defesa da vítima e também feminicídio. Ele foi enviado para a Casa de Prisão Provisória de Palmas (CPP), mas ainda pode recorrer da decisão.
O g1 solicitou posicionamento para defesa de Álvaro Ferreira sobre os casos de agressões revelados pela sentença e aguarda um posicionamento.
Depoimento da filha
Durante o julgamento até um vídeo com depoimento de uma das filhas foi exibido. A jovem relatou que o pai sempre foi muito agressivo, violento, impulsivo, imprevisível e incontrolável. A jovem relatou ter medo toda vez que encontrava Álvaro, pois não sabia de que maneira ele iria se descontrolar. Ela teria aconselhado Danielle a deixá-lo.
"Declarou que o acusado fez coisas horríveis e monstruosas e que ele não foi pai e sim um monstro", diz trecho do depoimento.
Em outra gravação que fez parte da investigação a mesma filha contou que sofreu abuso sexual pelo próprio pai quando tinha 6 ou 7 anos de idade e que ficou calada por muitos anos com medo de represálias e vinganças.
Agressões contra primeira esposa
A sentença do juiz Cledson José Dias Nunes, da 1ª Vara Criminal de Palmas, também revelou parte do depoimento de uma esposa anterior de Álvaro Ferreira. Ela disse que ficaram juntos por aproximadamente cinco anos e "viveu um inferno durante o período em que esteve casada com o réu."
Ela relatou que sofreu todos os tipos de agressão física e psicológica pelo acusado, inclusive ameaça com arma de fogo. "Quando descobriu a segunda gravidez, o acusado lhe desferiu inúmeros pontapés e chutes na barriga, pelo fato de ter sido acordado", diz o depoimento.
A mulher relatou que quando cozinhava e a comida não estava do agrado, Álvaro arremessava travessa, pratos e tudo que visse pela frente. "Declarou que Álvaro, após discutir com as filhas, ambas com menos de oito anos de idade à época, deixou-as na neve, sozinhas, em uma viagem realizada na Argentina para que retornassem à pé para o hotel."
Processo demorado
Álvaro Ferreira foi denunciado por feminicídio com agravantes pelo crime ter sido cometido por motivo torpe, com emprego de asfixia e dificultando a defesa da vítima. A determinação de que o caso seria levado ao júri popular saiu ainda em 2019, mas a data só foi marcada no fim do ano passado.
Inicialmente o julgamento seria no início de março. Só que os advogados dele alegaram que não tiveram acesso a algumas provas e conseguiram adiar a sessão. O julgamento acontece no Fórum de Palmas. O caso tramita na 1ª Vara Criminal de Palmas, do juiz Cledson José Dias Nunes
Todas as ocasiões em que falou sobre o caso, inclusive em juízo, o médico negou ter assassinado a ex-mulher. A defesa dele sempre alegou falta de acesso a provas e chegou a fazer pedidos de anulação do processo no Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. Todos foram negados.
No início desta semana um novo pedido foi feito por meio de um habeas corpus ao gabinete do desembargador Pedro Nelson de Miranda Coutinho, no TJ. A defesa do médico tinha pedido a anulação de todos os atos processuais ou a retirada do caso da 1ª temporada do júri, novamente alegando cerceamento de defesa.
Ao negar o pedido, juiz substituto Edmar de Paula, afirmou que todos os argumentos são repetidos e já foram negados, inclusive pelo STF. Desta vez a defesa também alegou que ao convocar a 1ª Temporada do Tribunal do Júri, o juiz deveria incluir apenas processos de réus presos – que não é o caso de Álvaro, pois está respondendo em liberdade. O argumento também não foi aceito.
O caso
O corpo da professora foi encontrado no dia 18 de dezembro de 2017, na casa dela, com marcas de estrangulamento. A suspeita de que o médico poderia estar envolvido foi motivada porque havia um histórico de agressões por parte do marido. Ele chegou a ser preso dois dias antes do assassinato por violência doméstica. A suspeita foi reforçada porque a polícia não conseguiu localizá-lo após o crime.
O médico ficou quase um mês sendo procurado pela polícia. Ele foi localizado após postar uma selfie em uma igreja nas redes sociais. O suspeito foi preso no dia 11 de janeiro de 2018 em Goiás e levado para a Casa de Prisão Provisória de Palmas no dia seguinte.
O caso teve grande repercussão na época. Enquanto esteve foragido, o médico deu entrevistas por telefone e mandou mensagens para a mãe da vítima. Atualmente, o médico responde ao processo em liberdade. Desde que foi solto, ele voltou a atender normalmente no sistema de saúde em Palmas.
Fonte: g1 to