O peso sobre a 'geração sanduíche': o desafio de cuidar de pais idosos, filhos e netos ao mesmo tempo

Faz uma década desde que Lady Daiane de Vargas Flores, uma paranaense de 39 anos, assumiu a responsabilidade de cuidar em tempo integral de sua mãe, que sofre de demência. Dona Maria Joana, de 68 anos, agora se assemelha a um bebê, incapaz de falar, andar ou se alimentar sozinha. Para Daiane, a doença de sua mãe coincidiu com outro grande evento em sua vida: ela estava prestes a se tornar mãe, grávida de um menino que hoje tem 7 anos. Assim, ela se viu enfrentando as demandas de duas gerações ao mesmo tempo.

Daiane não está sozinha nesse desafio. Mudanças demográficas e sociais em todo o mundo estão tornando cada vez mais comum que famílias, especialmente mulheres, sejam sobrecarregadas pelas demandas simultâneas dos pais idosos que necessitam de cuidados e dos filhos ou netos que também precisam de atenção constante e suporte financeiro. Esse fenômeno é conhecido internacionalmente como "geração sanduíche" e está se tornando cada vez mais complexo no Brasil.

Nos Estados Unidos, quase um em cada quatro adultos americanos se enquadra nessa definição, de acordo com uma pesquisa do centro Pew. Isso significa que eles têm responsabilidades tanto com pais idosos com mais de 65 anos quanto com filhos menores de idade ou até mesmo adultos financeiramente dependentes. A faixa etária mais propensa a ser afetada é a dos 40 anos, onde mais da metade dos americanos nessa faixa têm pais e filhos que demandam cuidados ou apoio financeiro.

No Brasil, não há estatísticas precisas sobre o fenômeno, mas espera-se que ele se torne mais comum no futuro, à medida que as pesquisadoras brasileiras Simone Wajnman e Jordana Cristina Jesus destacaram em um estudo sobre o tema. Várias mudanças sociais e demográficas contribuem para essa tendência. As pessoas estão tendo filhos mais tarde na vida, enquanto seus pais estão vivendo mais tempo. Como resultado, muitos indivíduos se veem lidando com os cuidados de duas gerações ao mesmo tempo. Além disso, as famílias estão ficando menores, o que significa que há menos pessoas com quem dividir essas tarefas.

Outro fator importante é que os jovens estão demorando mais tempo para se tornarem financeiramente independentes, adiando a saída da casa dos pais. Isso cria uma situação em que uma parcela crescente de adultos se vê comprimida pelas demandas de seus filhos e pais, desempenhando.