Opinião

A infância (des) respeitada

Maristela dos Reis Sathler Gripp (*)

Por Maristela dos Reis Sathler Gripp é doutora em Estudos Linguísticos e professora do Curso de Letras d

14/05/2021 às 08:35:19 - Atualizado hĂĄ

A morte de uma criança sempre nos choca. Ainda assim, a história estĂĄ repleta de casos de crianças que foram mortas pelos seus genitores ou por seus companheiros. Algumas sofrem anos de abusos e maus tratos que vão desde a violĂȘncia física e psicológica, até a privação do alimento. São deixadas a própria sorte até que desistem de viver.

No Brasil, as estatísticas sobre essas ocorrĂȘncias de violĂȘncia infantil ainda são muito falhas. A Sociedade Brasileira de Pediatria informa que do total de casos notificados na saúde sobre violĂȘncia contra crianças e adolescentes, 69,5% (59.293) são decorrentes de violĂȘncia física; 27,1% (23.110) de violĂȘncia psicológica; e 3,3% (2.890) de episódios de tortura. A pesquisa não considerou variações como violĂȘncia e assédio sexual, abandono, negligĂȘncia, trabalho infantil, entre outros tipos de agressão. São agressões contínuas que só são levadas aos locais de atendimento "quando a violĂȘncia assume proporções graves".

O certo é que esse tipo de violĂȘncia nem sempre acontece em ambiente familiar, não começou no dia em que a morte se concretizou e, quase sempre, a criança emite sinais de que alguma coisa não vai bem. O Guia de atuação frente a maus-tratos na infância e na adolescĂȘncia, publicado pela Fiocruz em 2001, destaca alguns sintomas típicos de crianças vítimas de violĂȘncia e maus-tratos, que podem identificar sinais de maus-tratos ou violĂȘncia infantil. Pais e responsĂĄveis devem estar atentos a alguns sinais como manchas na pele, hematomas, cabelos arrancados, mordidas, ferimentos, fraturas constantes, entre outros.

Muitas vezes, a criança faz repetidas queixas contra alguém ou sobre alguma situação e são rotuladas como "birrentas", "malcriadas" ou "sem educação". Os pais e responsĂĄveis devem levar em consideração o que a criança diz! Ouvir com respeito a sua queixa, dar atenção e verificar a veracidade ou não dos fatos relatados e, se for necessĂĄrio, levĂĄ-la ao médico, mas nunca desconsiderar o seu relato nessas situações.

O abuso sexual também é uma grande preocupação dos pais e responsĂĄveis. Segundo dados da AgĂȘncia Brasil em 2019 foram mais de 17 mil denúncias de violĂȘncia sexual contra menores de idade. A maioria desses abusos ocorreu na casa do abusador ou da vítima. Esse tipo de violĂȘncia traz consequĂȘncias físicas, emocionais, sociais e comportamentais trĂĄgicas para a criança. Por isso, estejam atentos às mudanças súbitas no comportamento como dificuldades de aprendizado, fugas de casa, queixas psicossomĂĄticas, fobias, pesadelos e rituais compulsivos, entre outros. São alguns sinais de que algo não vai bem.

Ainda existem os maus-tratos psicológicos, tão ou mais graves que a violĂȘncia física e que podem acarretar resultados desastrosos na vida de uma criança. Os sintomas e transtornos que aparecem não são específicos e podem se manifestar em longo prazo, em casa ou na escola, a partir de outros distúrbios físicos e emocionais. Nesse sentido, a família e a criança precisam de ajuda e tratamento o quanto antes, junto com profissionais habilitados.

A infância deve ser protegida, sim! E cabe a nós, adultos, pais, mães, tios, vizinhos, educadores, legisladores, proteger, ouvir, acolher e repudiar toda forma de abuso e maus-tratos que possam tirar o brilho de uma fase tão importante da nossa existĂȘncia! Temos a obrigação de criar todas as condições para que cada criança tenha o seu direito à vida protegido e mantido, a fim de garantirmos uma sociedade melhor e mais justa no futuro.

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