Partido Liberal libera bancada no Senado para votar em indicado de Lula ao STF: PL de Bolsonaro adota postura inesperada
Liberdade para votar em Cristiano Zanin contrasta com postura do PL em outras agendas prioritárias do governo Lula
O Partido Liberal (PL), legenda que tem Jair Bolsonaro como um de seus principais integrantes, surpreendeu ao decidir não se opor formalmente à indicação de Cristiano Zanin, advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para o Supremo Tribunal Federal (STF). Fontes dentro do partido confirmaram que a cúpula decidiu liberar a bancada no Senado para votar sobre a escolha de Lula. Essa inusitada postura abre espaço para que os onze senadores da sigla expressem livremente seus votos, tanto a favor quanto contra o indicado de Lula, sem qualquer risco de penalidades.
De acordo com uma fonte próxima a Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, essa decisão visa evitar a repetição do que aconteceu com a nomeação de André Mendonça, ex-ministro de Bolsonaro. Mendonça enfrentou uma espera de nove meses para que sua nomeação fosse pautada no Senado, devido à pressão do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre. Na ocasião, Lula atuou pessoalmente, a pedido de aliados evangélicos, para que o PT não se opusesse à nomeação de Mendonça, que é presbiteriano.
Essa movimentação de Lula garantiu alguns votos favoráveis ao aliado de Bolsonaro no plenário. No entanto, a votação foi a mais apertada para uma indicação ao Supremo nas últimas duas décadas, com 47 votos favoráveis e 32 contrários. Embora Lula não esteja ativamente trabalhando pela aprovação de Zanin, ele já deixou claro como será o comportamento do PL em relação à escolha, declarando que é uma "competência privativa do presidente".
Essa liberação da bancada contrasta com a postura do partido em relação a outras agendas prioritárias do governo Lula no Congresso, como a medida provisória da Esplanada dos Ministérios e o projeto de lei das fake news, nas quais o PL fechou questão contra. Os parlamentares do partido que desafiarem essa posição terão seus direitos partidários suspensos, incluindo a participação em comissões na Câmara.
A votação no plenário do Senado, que está prevista para acontecer até o final de junho, será secreta. Caso o PL fechasse questão, seria possível identificar, com base no placar final, se o partido votou unido a favor ou contra o indicado de Lula.
Como já reportado anteriormente, Zanin está trabalhando para garantir pelo menos 49 votos no plenário do Senado, o mesmo número de senadores que apoiaram Rodrigo Pacheco na sua candidatura à reeleição como presidente da Casa. Para alcançar esse objetivo, além da base de Lula, o advogado precisa do apoio de parlamentares do PL.
Apesar de enfrentar resistência de senadores como Magno Malta, Zanin já conquistou o apoio de Carlos Portinho e tem sinalizações positivas de outros, como Rogério Marinho. Até mesmo Valdemar Costa Neto, presidente do PL, elogiou Zanin nos bastidores.
A atuação de Zanin nos casos que condenaram Lula impôs à Lava-Jato sua mais dura derrota, com o STF decretando a suspeição do ex-juiz Sergio Moro. Essa decisão reabilitou politicamente o ex-presidente e pavimentou seu caminho para disputar a eleição e retornar ao Palácio do Planalto. Esse histórico agrada a Valdemar, que também foi condenado no escândalo do Mensalão. Recentemente, Valdemar afirmou que Moro e Deltan Dallagnol "pagarão caro" por terem "ultrapassado os limites da lei" na força-tarefa em Curitiba.