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Caso Richthofen: mansão vendida segue vazia e borrada no Google após 20 anos; penas de Suzane e Cravinhos acabam em 2038 a 2043

Em 31 de outubro de 2002, filha mandou namorado e irmão dele matarem seus pais. Em 2014, irmão dela, único herdeiro do casarão, vendeu imóvel por R$ 1,6 milhão a casal engenheiro e dentista. Vizinhos disseram que ninguém mais morou no imóvel de 1 mil m² desde o crime.

Por GG Notícias

01/11/2022 às 10:50:05 - Atualizado há
Foto: divulgação

Após 20 anos de um dos assassinatos mais emblemáticos do Brasil, a mansão do caso Richthofen, na Zona Sul de São Paulo, vendida por R$ 1,6 milhão após o crime, segue desocupada, sem nenhum morador, disseram vizinhos ouvidos pelo g1 nesta semana.

"Também [sou] curioso em saber do rumor da casa da [família] Richthofen, o pessoal tem falado bastante que às vezes tem um entra e sai, mas ninguém realmente mora aqui", disse o profissional de marketing Lorenzo Gumieri, de 19 anos, morador da região. "Bastante curioso esse caso e a gente quer saber o que está acontecendo por aí [dentro do imóvel]."

Em 31 de outubro de 2002, o casal Marísia e Manfred von Richthofen foi morto com golpes de barras de ferro na cabeça enquanto dormia no casarão de muros altos, de 1 mil m², na Rua Zacarias de Gois, no Campo Belo. Suzane von Richthofen, filha das vítimas, e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos confessaram o homicídio e foram presos pela polícia.

Segundo o Ministério Público (MP), os três alegaram que os pais de Suzane não aprovavam o namoro dela com Daniel. Então decidiram matá-los para poder ficar com o imóvel, o dinheiro e outros bens da herança da família.

Condenados a mais de 30 anos de prisão pelos homicídios na Justiça em 2006, as penas deles deverão ser extintas entre 2038 e 2043.

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Dos três, Suzane cumpre a punição no semiaberto na penitenciária de Tremembé, no interior do estado. Cristian também está no mesmo regime e na mesma cidade. Já Daniel está em liberdade (saiba mais abaixo).

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A mansão dos Richthofen havia sido comprada em 1998 por Manfred. Ele pagou à época R$ 330 mil pelo imóvel. A residência tem dois pavimentos com sala, cozinha, banheiros, suítes, escritório, biblioteca, piscina e garagem.

Em 2014, Suzane abriu mão da herança após uma disputa judicial com o irmão Andreas. No mesmo ano, ele vendeu o casarão por metade do valor de mercado. Os atuais donos, um engenheiro e uma dentista, não quiseram falar com a reportagem sobre o assunto.

Quando os novos proprietários compraram a mansão, decidiram reformar o espaço. A fachada com o número da residência e tijolos à vista da época do crime, mostrada nas TVs e nos jornais, foi trocada. Acabou pintada de branco. A tinta cobriu também o número da casa, além das pichações que antes pediam "justiça" aos assassinos dos Richthofen.

Além de Lorenzo, que mora no bairro há quatro meses, a reportagem conversou nos últimos dias com mais três pessoas que disseram que ninguém nunca residiu no imóvel depois do crime: uma vizinha que está no bairro há décadas; um jardineiro que trabalha nos casarões próximos há nove anos e um segurança que percorre o bairro há três anos. Elas pediram, no entanto, para não serem identificadas.

Segundo eles, o atual dono da mansão e um jardineiro visitam o imóvel eventualmente, mas não moram nele.

Foi dentro da mansão que Marísia e Manfred von Richthofen foram mortos com golpes de barras de ferro enquanto dormiam, em 31 de outubro de 2002. Ela era psiquiatra e tinha 50 anos. Ele, alemão naturalizado brasileiro, estava com 49 e era engenheiro.

Procurado pelo g1 para comentar os 20 anos do caso, o promotor Paulo José de Palma, que acompanha os processos dos condenados, informou que não poderia comentar o assunto porque ele está em segredo de Justiça.

Segundo a acusação do Ministério Público à época, os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos entraram na residência e mataram o casal a pedido de Suzane von Richthofen, filha das vítimas.

Suzane tinha 18 anos e iria completar 19 três dias depois do crime. Além de estudar direito, ela namorava Daniel. O rapaz, então com 21, praticava aeromodelismo. Cristian, que estava com 26 anos, não estudava e era apaixonado por motos.

Andreas, filho caçula do casal e irmão de Suzane, tinha 15 anos. Ele não participou do crime nem sabia do plano da irmã e dos Cravinhos de matar seus pais. O adolescente havia sido levado de carro por Daniel e Suzane a um cibercafé.

Depois o trio voltou à mansão. Suzane permitiu que os irmãos entrassem e assassinassem Marísia e Manfred. Enquanto ela ficou na sala, eles subiram ao quarto do casal, com os rostos cobertos com meia-calças e usando luvas cirúrgicas. Daniel assassinou Manfred. E Cristian matou Marísia.

Os Cravinhos ainda roubaram R$ 8 mil e US$ 5 mil em dinheiro e joias. Pegaram um revólver que estava na casa e deixaram ao lado do corpo de Manfred para simular que ele tentou se defender um roubo, mas foi morto por um suposto assaltante.

Pela manhã, Suzane buscou o irmão e chamou a Polícia Militar (PM) alegando que as portas da mansão estavam abertas. Os policiais entraram e encontraram o casal morto sobre a cama.

A Polícia Civil começou a investigar o crime como latrocínio, que é o roubo seguido de morte. Mas o circuito interno de TV e o alarme da casa estavam desligados e não havia sinais de arrombamento no imóvel.

O caso repercutiu na imprensa. A TV gravou Suzane e Daniel chorando ao lado de Andreas no cemitério quando os caixões com os corpos dos pais eram enterrados.

Em 3 de novembro de 2002, ela completou 19 anos. E no dia 7 daquele mês, a investigação viu a motocicleta nova na garagem da casa onde Cristian morava com o irmão e a família. Ele foi levado à delegacia, onde acabou interrogado e confessou como cometeram o homicídio. Suzane e o então namorado também foram ouvidos e admitiram ter participado do crime.

O motivo do crime seria, segundo os depoimentos dados à polícia, o fato de Marísia e Manfred não aprovarem o relacionamento de Suzane com Daniel, já que ela era de uma família rica, e ele não. Para a investigação, no entanto, o trio também queria ficar com parte da herança que Suzane receberia no caso da morte dos pais.

Os três foram presos preventivamente por decisão da Justiça. Depois disso, a mansão teve os muros pichados com frases e palavras pedindo "Justiça" e punição a Suzane, Daniel e Cristian.

Em 2006, os três acabaram julgados e condenados num julgamento popular. A maioria dos jurados entendeu que eles deveriam ser responsabilizados pelos crimes de duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas, além de fraude processual porque alteraram a cena do crime. Cristian ainda foi condenado por furto.

No júri, Suzane alegou que era agredida pelo pai e estava apaixonada por Daniel. E que foi manipulada pelo namorado a participar do crime. E que ele e o irmão queriam o dinheiro dos pais dela. O então namorado contou que foi seduzido por Suzane, que planejou os assassinatos dos pais.

Cristian negou no interrogatório ter matado Marísia. Falou que quem a assassinou e também matou Manfred foi Daniel.

Após a decisão do júri em 2006, Suzane recebeu a pena de 39 anos e seis meses de prisão. Em 2021, a defesa dela recorreu à Justiça, que a revisou e reduziu para 34 anos, quatro meses e 20 dias. O g1 entrou em contato com a advogada dela, Stephanie Guadalupe, que afirmou que não irá comentar por "trata-se de um processo que corre em segredo de Justiça".

Com 38 anos, Suzane está no regime semiaberto na Penitenciária feminina de Tremembé, interior do estado, desde outubro de 2015. Atualmente trabalha na unidade prisional pela manhã com costura e cursa biomedicina numa faculdade em Taubaté, cidade vizinha.

Até agosto deste ano, a pena de Suzane iria até 25 de fevereiro de 2038, quando ela será considerada uma mulher totalmente livre. Mas esse tempo pode diminuir porque, pela lei, como ela trabalha na prisão, há um cálculo de remição. Essa redução permite descontar dias de pena por dias trabalhados.

Nesta semana, quando se completam duas décadas do caso Richthofen, deverá chegar à Justiça o resultado do laudo criminológico de Suzane. O documento foi exigido pela Justiça para saber se ela tem condições de progredir para o regime aberto, como quer a sua defesa.

De acordo com fontes do g1, a conclusão do exame deverá ser favorável a ela. No exame estão relatórios sociais, psicológicos e psiquiátricos para saber se ela demonstra ou não possibilidade de voltar a cometer crimes e se tem condições de voltar ao convívio social. O documento seguirá para análise do Ministério Público, que dará sua opinião. E depois vai para decisão da Justiça.

Em 2018, o resultado teste de Rorschach indicou que Suzane era egocêntrica, narcista e influenciável para condutas violentas. O exame, popularmente conhecido como "teste do borrão de tinta", havia sido exigido pela Justiça, que negou o pedido da defesa dela para progredir do regime fechado para o aberto. Em 2020 o Poder Judiciário também havia negado essa progressão.

Após vender a mansão da família, Andreas Richthofen foi morar num apartamento em São Paulo, que teria comprado com parte do dinheiro do negócio. Outros imóveis do mesmo bairro onde está o casarão, e com a mesma metragem, custam em torno de R$ 5 milhões atualmente.

Após o crime, ele foi morar com tutores, sua avó e um tio. Continuou estudando e anos depois se formou em farmácia e química pela Universidade de São Paulo (USP).

Em entrevista à Rádio Eldorado em 2015, Andreas disse que o assassinato cometido pela irmã e pelos Cravinhos "é nojento".

Em maio de 2017, ele foi detido por policiais militares após invadir uma casa na cidade durante um surto psicótico (veja acima vídeo com reportagem do Fantástico sobre esse caso).

Ele segurava uma caixa com uma medalha com o sobrenome dos Richthofen. A família, de origem alemã, tem laços com Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen, piloto de avião conhecido como "Barão Vermelho", que atuou na Primeira Guerra Mundial.

À época, Andreas chegou a ser internado num hospital psiquiátrico. Ele tem atualmente 35 anos. Procurada para comentar o caso Richthofen, a defesa do irmão de Suzane informou que ele não irá falar por conta do segredo de Justiça do processo.

O caso Richthofen rendeu livros, documentários e filmes. O crime foi retratado na TV com longa-metragens, como "A menina que matou os pais" e "O menino que matou meus pais".



Fonte: G1
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