Tocantins

Doação de Corpos para Estudo: Um Ato de Generosidade que Transforma Vidas na UFT

O Programa de Doação de Corpo (PDC) da Universidade Federal do Tocantins (UFT) está mudando a maneira como encaramos a morte, tornando-a um ato de generosidade que impulsiona a educação e a pesquisa na área da saúde.

Por Redação

12/09/2023 às 11:39:14 - Atualizado há
Foto: Arthur Girão

A doação é um ato que pode tomar muitas formas: roupas para aqueles que necessitam, dinheiro para instituições de caridade, ou até mesmo um cãozinho para ser o melhor amigo de alguém. Mas na Universidade Federal do Tocantins (UFT), um programa está transformando o significado da doação ao receber um tipo de presente muito especial: o dom do corpo humano.

O Programa de Doação de Corpo (PDC) da UFT, criado em 2019, está incentivando pessoas a doarem seus corpos após a morte, contribuindo para o ensino na área da saúde e para avanços científicos.

A doação de corpos, embora possa parecer controversa, é de imenso valor para o estudo das ciências da saúde. De acordo com Gabriela Ortega, biomédica, professora de anatomia e uma das responsáveis pelo projeto, a complexidade do corpo humano torna os modelos sintéticos inadequados em comparação com corpos reais. "É difícil estudar esses pontos sem de fato usar o corpo humano, ele é insubstituível, complexo e os corpos não são iguais. Modelos de borracha são todos idênticos e as pessoas não, existem diferenças de tamanho, peso e variações anatômicas. Então é incomparável para formação estudar com peças reais," explica a professora.

Desde sua fundação, o programa já recebeu doações de mais de 15 corpos e membros amputados, incluindo órgãos, recém-nascidos e fetos. Além disso, 20 pessoas já preencheram documentação para doar seus corpos após a morte.

Foto: Gabriela Ortega

Outro tipo de doação importante são ossos exumados. Algumas famílias, após enterrar seus entes queridos em cemitérios particulares, muitas vezes não conseguem mais pagar as taxas exigidas e decidem doar os ossos, que também são valiosos para estudos anatômicos. E para tranquilidade das famílias, o programa permite que ocorra um velório antes de o corpo ser usado para estudos. "O velório acontece normalmente, a diferença é que depois, em vez do caixão ser enterrado ou cremado, o corpo é destinado à universidade," diz a professora Ortega.

Em respeito aos doadores e suas famílias, que muitas vezes visitam os mortos em datas especiais, como o Dia de Finados, o programa planeja criar um memorial no campus de Palmas em homenagem aos doadores.

E como alguém pode fazer essa doação? É simples. Os interessados precisam preencher um formulário disponível no site da UFT e, claro, conversar com sua família sobre essa decisão. Importante ressaltar que a doação não é irreversível, e o doador pode suspender o cadastro a qualquer momento, basta comunicar a universidade. Também é crucial que a família esteja de acordo com a doação após a morte do doador.

Quanto à segurança sanitária, os protocolos são rigorosos. Os componentes químicos usados para preservar o corpo humano podem causar desconforto, e, por isso, o laboratório de anatomia é restrito. Apenas técnicos do laboratório, professores de anatomia e alunos da disciplina têm acesso. Além disso, quando não estão sendo usadas, as peças e os corpos humanos ficam em uma área inacessível aos alunos.

Foto: Arthur Girão

Os estudantes que têm a oportunidade de aprender com essas doações encaram a experiência com respeito e empatia. Fernanda, aluna de medicina, descreve o impacto inicial da experiência: "Quando eu entrei no laboratório pela primeira vez, fiquei um pouco distante. Levou cerca de uma hora até eu conseguir chegar perto do cadáver para manipulá-lo. Sempre lembramos que eles não são bonecos, são pessoas que estão ajudando em nossa formação, então há sempre respeito no manuseio."

Alguns alunos sentem tanto respeito pelo projeto que também se inscrevem como doadores. Adriano Jardim é um exemplo e se orgulha de sua escolha. "Existem sentidos na vida, mas também pode existir um sentido na morte. Doando, acho que posso contribuir com minha formação e com a de futuros colegas. Além de ter orgulho disso, acho que ao fazer isso com minha morte, estarei dando sentido a ela," diz Adriano.

A família de Adriano apoia sua escolha. "No início, ninguém gostou, mas entenderam que isso não impede uma despedida adequada. Meus entes queridos ainda poderão ter lembranças," acrescenta ele.

Assim, essa prática de doação de corpos, embora inicialmente possa parecer mórbida, é um exemplo brilhante de como a generosidade, a educação e a pesquisa podem se unir para transformar vidas, mesmo após a morte. É como se uma cortina se fechasse, mas, para esses doadores, as cortinas do conhecimento e da contribuição permanecerão abertas para sempre.

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