Fora da F1, Brasil tem desafios na base para alavancar automobilismo
O piloto ,Lucas Di Grassi, de 36 anos, disputa a temporada deste ano da Fórmula E, de carros elétricos - Divulgação/Audi Communications Motorsport
"O que deve ser observado é quantos pilotos vivem profissionalmente no automobilismo - internacional ou interno - e quantos estão na trilha da Fórmula 1. Ainda, como podemos ajudar esses e mais pilotos a ingressarem na carreira e chegarem nos estágios mais altos, se o que fazemos é suficiente ou se há algo mais a fazer", completa o dirigente, que assumiu a entidade há dois meses e meio.
Nos campeonatos de monopostos organizados pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), o Brasil está representado em três. O único considerado "Mundial" pela entidade é a Fórmula E, de carros elétricos, cuja edição iniciada em fevereiro tem o experiente Lucas Di Grassi, de 36 anos e com passagem pela Fórmula 1, e Sérgio Sette Câmara, de 22 anos.
Nas demais competições, são três brasileiros na Fórmula 2 - Felipe Drugovich (20 anos), Gianluca Petecof (18) e Guilherme Samaia (24) - e Caio Collet (18) na Fórmula 3. Todas são categorias de acesso à F1. Em 2020, os destaques foram Drugovich, que venceu três provas na temporada da F2, e Petecof, que integra a academia de pilotos da Ferrari e foi campeão da Fórmula 3 Regional Europeia.
Kartismo
"O automobilismo é muito complexo. É um esporte caro, que, infelizmente, não é para a massa. A gente tem que olhar isso de forma pragmática, racional, de como fazer ele ser viável, gerar retorno, entretenimento e turismo. É resultado de infraestrutura, investimento e planejamento, desde o kartismo, do longo prazo", opina Di Grassi, da Fórmula E.
A menção ao kart não é por acaso. Trata-se da porta de entrada do jovem no mundo automobilístico. Em outubro, o Brasil sediará o Mundial da categoria no Speedpark, em Birigui (SP), considerado o principal kartódromo da América Latina. A disputa estava prevista já para 2020, mas foi adiada devido à pandemia do novo coronavírus. A edição do ano passado acabou acontecendo em Portimão (Portugal), com participação de dez brasileiros, sendo cinco na classe principal.

A oferta de pistas no país, no entanto, concentra-se basicamente no Sul e no Sudeste. Segundo a relação disponível no site da CBA, Rio Grande do Sul (11), Paraná (dez) e São Paulo (seis) são os estados com mais kartódromos. Um desafio a mais para quem sonha seguir carreira no automobilismo e não vive nestas regiões. Nordeste, Norte e Centro-Oeste, juntos, possuem nove circuitos.
"Meu início em Salvador, é claro, foi bem complicado. A pista de kart mais próxima tinha 500, 600 metros. Em comparação, as nacionais, como Interlagos [na capital paulista] ou Beto Carreiro [em Penha, no interior de Santa Catarina], têm um quilômetro, um quilômetro e meio. Não é possível treinar de carro na Bahia, pela falta de autódromo. Então, a decisão de correr em São Paulo foi para buscar mais oportunidades", explica o kartista baiano Diogo Moscato, de 16 anos.
"Temos no Brasil kartódromos públicos e privados. Eles são construídos de acordo com a vontade política e/ou recursos financeiros disponíveis de cada local. O que precisamos, mesmo, é preservar o que já temos e reformar o que não está em condições boas. Posso assegurar que há pilotos em todos os cantos do país. O que falta é impulsionar campeonatos em cada região para os pilotos locais terem oportunidade de competir e se desenvolver. Uma das primeiras ações de nossa gestão foi criar o Campeonato Nordeste de Kart", argumenta Guerra, citando o evento que será disputado pela primeira vez em 2021 e teve a etapa de abertura, em Aracaju, adiada de abril para julho, devido à pandemia.
Transição
Outro desafio é a transição do kart para outras categorias. Há campeonatos como a Fórmula Vee ou a Super Fórmula, realizados pela Federação Paulista de Automobilismo. Atualmente, porém, não existe uma competição do gênero homologada pela CBA. A entidade tem um projeto para viabilizar um evento nacional de monopostos, por meio de parcerias.
"A CBA não é organizadora, não é promotora, não é dona de pista de corrida, não constrói circuitos e nem é patrocinadora. Nossa função é fomentar, normatizar e supervisionar o cumprimento dos regulamentos. Além disso, firmamos contratos com promotores privados para que atuem nas categorias sob nossa alçada. A CBA só atua como promotora, em conjunto com as federações, quando não há a figura do promotor privado, como no Brasileiro de Kart", explica o presidente da confederação.

O último campeonato de nível nacional foi a Fórmula 3 Brasil, disputada até 2017 e que teve Christian Fittipaldi, Ricardo Zonta e Cristiano da Matta (todos com passagem pela Fórmula 1) entre os campeões. O último vencedor foi Guilherme Samaia, hoje na F2.
"Eu podia ter continuado no Brasil, no kart ou até mesmo alguma categoria de base [para monopostos], mas a gente colocou na balança e viu que era muita a diferença na qualidade do equipamento, pistas e infraestrutura. Quando fui para a Fórmula 4 [inglesa], ainda não tinha uma Fórmula 4 no Brasil, por isso escolhi ir", conta o carioca Roberto Faria, que disputará a segunda temporada dele na Fórmula 3 Britânica.
Entre os dias 16 e 18 abril terá início à primeira temporada da Fórmula 4 Argentina. Estão previstas oito etapas, sendo uma no Uruguai e três no Brasil - nos autódromos de Goiânia, Nova Santa Rita (RS) e Pinhais (PR), ainda sem datas marcadas, em razão da pandemia. O evento segue padrões técnicos e de segurança exigidos pela FIA e conta pontos para obtenção da superlicença, documento necessário para, no futuro, o piloto ser autorizado a disputar a Fórmula 1. No curto prazo, a competição sul-americana desponta como o caminho mais curto às novas gerações no sonho de uma carreira internacional.