Corpo de Daiane Griá Sales foi encontrado em uma lavoura na Terra Indígena do Guarita, na região noroeste do RS
Moradora do Setor Bananeiras da Terra Indígena do Guarita, a jovem kaingang foi encontrada em uma lavoura próxima a um mato, nua, e com as partes do corpo da cintura para baixo arrancadas e dilaceradas, com pedaços ao lado dela. A Polícia Civil da região está investigando o caso. O delegado Vilmar Alaídes Schaefer disse ao site Portela Online que não descarta nenhuma hipótese, incluindo a da possível ocorrência de violência sexual, seguida de morte e mutilação do corpo.
Há relatos de outros casos de ataques contra mulheres indígenas que estariam acontecendo na região. Localizada em uma área de 23,4 mil hectares, a Terra Indígena do Guarita abriga cerca de 6 mil pessoas e é a maior terra indígena do Rio Grande do Sul. Uma fonte que trabalhou por anos na região da Terra Indígena do Guarita disse a um jornal local que crianças e jovens indígenas que vivem no local enfrentam uma realidade muito difícil, convivendo com casos de estupro, raptos, encarceramentos e outras situações de violência.
Segundo a fonte, que pediu para não ser identificada por razões de segurança, 90% da comunidade do Guarita é muito sofrida e crianças, adolescentes e jovens não têm a proteção necessária diante dessa realidade. Ela também aponta uma grande omissão por parte das autoridades. O aumento da presença de pessoas não indígenas dentro da comunidade da Terra Indígena do Guarita seria outro fator que estaria agravando essa situação de insegurança. As famílias de Daiane e de outras meninas que teriam sofrido casos de abuso estariam amedrontadas.
A morte da adolescente kaingang Daiane provocou a manifestação de indignação de diversas entidades que cobram das autoridades a imediata apuração do caso. Entidades ligadas aos povos indígenas e ao combate ao feminicídio cobram das autoridades apuração imediata do caso. A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) divulgou uma nota denunciando o crime de barbárie cometido contra a jovem kaingang. "A desumanidade exposta em corpos femininos indígenas precisa parar", diz trecho do documento.
"Parece que não é suficiente matar. O requinte de crueldade é o que dilacera nossa alma. (...) A violência cometida a nós, mulheres indígenas, desde a invasão do Brasil é uma fria tentativa de nos exterminar, com crimes hediondos que sangram nossa alma", diz a Anmiga.
A regional Sul do Conselho Indigenista Missionário manifestou indignação diante do caso e cobrou que a Funai e os órgãos de investigação Federal promovam ações para coibir as violências, responsabilizem os criminosos e averiguem se os crimes estão vinculados com a intolerância. A Secretaria de Igualdade, Cidadania, Direitos Humanos e Assistência Social do RS divulgou uma nota de pesar e indignação pela morte de Daiane: "O caso estarrecedor expõe o quão necessário e urgente é fomentar as políticas públicas protetivas e transversais para essa população que vem sofrendo de forma constante violências de todos os tipos em todo o território brasileiro". A Secretaria afirma que está acompanhando as investigações que "estão sendo conduzidas com absoluta prioridade pelas forças policiais do Estado"