SaĂșde LGBTIfobia

Desemprego e violência doméstica agravam situação de LGBTI na pandemia

Por GG Notícias

17/05/2021 às 18:00:07 - Atualizado hĂĄ

O isolamento social é uma das principais medidas de proteção contra o novo coronavĂ­rus durante a pandemia de Corona VĂ­rus

, mas, para muitas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e intersexuais (LGBTI), estar em casa é sofrer violĂȘncias causadas pela intolerância da própria famĂ­lia.


No Dia Internacional de Combate à LGBTIfobia, comemorado hoje (17), a AgĂȘncia Brasil conversou com o coordenador executivo do Grupo Arco-Íris e diretor de PolĂ­ticas PĂșblicas da Aliança Nacional LGBTI, ClĂĄudio Nascimento, que alertou sobre o peso adicional de situações como desemprego e confinamento para essa população.

O cruzamento entre a pandemia e a LGBTfobia jĂĄ havia sido motivo de alerta da Organização das Nações Unidas (ONU) ainda nos primeiros meses da crise sanitĂĄria, no ano passado. Em abril de 2020, a ONU divulgou comunicado antecipando que a emergĂȘncia sanitĂĄria exacerbaria as violĂȘncias sofridas por LGBTIs.

Integrante de movimentos que lidam com denĂșncias sofridas por essa população, ClĂĄudio Nascimento lamenta que o cenĂĄrio tenha se confirmado. "Estar em casa, para a comunidade LGBT, nem sempre é um lugar de conforto e de segurança. Com a pandemia, temos recebido denĂșncias de todos os tipos, de agressões fĂ­sicas, constrangimentos, humilhações, agressões verbais, violĂȘncias psicológicas", relata Nascimento, que, apesar disso, reforça a necessidade de adotar o isolamento social e evitar aglomerações para impedir a circulação do vĂ­rus.

Para escapar desse ambiente violento em casa e se manter em local seguro, muitos LGBTIs dependem de conseguir uma fonte de renda, diz o ativista, o que esbarra em outro problema agravado pela pandemia: o desemprego. "O emprego é a autonomia, é a independĂȘncia, é a alforria para muitos LGBTIs poderem tocar suas vidas. Mesmo aqueles que moram com a famĂ­lia, ou tĂȘm dificuldade de assumir sua identidade, ainda tĂȘm algum tipo de segurança [estando empregados] para sair de casa se precisarem."

A Aliança Nacional LGBTI estima que o desemprego possa chegar a 40% na comunidade LGBTI, e a 70% na população trans. Os percentuais estão muito acima dos 14,4% de desempregados na população geral, segundo a Ășltima Pesquisa Nacional por Amostra de DomicĂ­lios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂ­stica (IBGE). Diante disso, a organização não governamental (ONG) reforça a importância de medidas de socorro, como auxĂ­lio emergencial às populações mais vulnerĂĄveis, e a urgĂȘncia da vacinação para todos.

"É necessĂĄrio, nesse perĂ­odo do Dia de Combate à LGBTfobia, chamar a atenção também para a violĂȘncia estrutural, que se estabelece na exclusão das pessoas do trabalho, da saĂșde e de outros aspectos que interferem na cidadania e na autoestima", completa ClĂĄudio Nascimento.

O Dia Internacional de Combate à LGBTfobia é comemorado na data em que a Organização Mundial da SaĂșde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação EstatĂ­stica Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a SaĂșde (CID), no ano de 1990, após décadas de luta da comunidade LGBTI contra a patologização de sua identidade. Apesar disso, somente em 2018 a transexualidade foi retirada dessa lista.

Para marcar o dia, a Aliança Nacional LGBTI e outras organizações que defendem os direitos da comunidade LGBT vão realizar em suas redes sociais uma live com o tema Pessoas LGBTI+ juntas, resistindo, apoiando e acolhendo, com a participação de artistas, polĂ­ticos e ativistas, das 18h30 às 21h.

A transmissão ao vivo também vai chamar a atenção para as violĂȘncias sofridas pela comunidade LGBTI, como o caso da vereadora Benny Briolly (PSOL), de Niterói (RJ), que anunciou na semana passada ter deixado o paĂ­s temporariamente devido a ameaças contra a sua integridade fĂ­sica. Benny Briolly é a primeira mulher trans eleita vereadora na cidade fluminense.

Dez anos de uniões homoafetivas

Além de alertar para o acĂșmulo de vulnerabilidades que afetam a população LGBTI, ClĂĄudio Nascimento destaca que, neste ano, a comunidade também comemora os 10 anos da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu as uniões homoafetivas e garantiu aos casais formados por pessoas do mesmo sexo direitos iguais aos dos casais heterossexuais.

Em 5 de maio de 2011, os 11 ministros que formavam o STF na época decidiram, de forma unânime, equiparar os direitos das uniões homossexuais aos das heterossexuais. Após a decisão, o Conselho Nacional de Justiça determinou, em 2013, que cartórios de todo o paĂ­s garantissem aos homossexuais o direito ao casamento. Segundo as EstatĂ­sticas de Registro Civil reunidas pelo IBGE, entre 2013 e 2019, cerca de 28 mil casais homoafetivos oficializaram casamentos no Brasil.

ClĂĄudio Nascimento lembra que, desde 2011, decisões da Suprema Corte garantiram outras conquistas importantes, como o reconhecimento ao direito de transexuais corrigirem seus documentos de acordo com sua identidade de gĂȘnero, a equiparação da LGBTfobia ao crime de racismo, e a revogação da portaria que impedia homens que fazem sexo com homens de doar sangue.

"O grande desafio é a garantia do cumprimento desses direitos, dessas conquistas", afirma.

Direitos LGBT no mundo

Apesar dos avanços nos direitos LGBTI nas Ășltimas décadas, 67 paĂ­ses ainda consideram crime relações consensuais entre adultos do mesmo sexo, segundo o Ășltimo levantamento anual da Associação Internacional LGBTI (Ilga). Também hĂĄ 42 paĂ­ses com barreiras legais contra a liberdade de expressão relativa a questões de gĂȘnero e sexualidade.

Enquanto isso, em apenas 11 paĂ­ses, a Constituição prevĂȘ a proteção contra a discriminação baseada na orientação sexual. Em 57 paĂ­ses, incluindo o Brasil, existe algum tipo de proteção legal contra esse tipo de discriminação.

As uniões civis entre homossexuais estão garantidas em 34 paĂ­ses, segundo o relatório, e, em 28, pessoas do mesmo sexo podem se casar.

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